Conceito
A alergia alimentar é uma resposta imunológica anormal do organismo para alguns alimentos. Esse tipo de reação depende da sensibilidade de cada um.
A alergia alimentar é mais comum na criança – 80% dos sintomas ocorrem no primeiro ano de vida.
Fatores de Risco
- GENÉTICA:
História de alergia na família é o melhor indicativo para o risco de aparecimento de alergia alimentar.
Caso a herança seja bilateral (pai e mãe), o risco de alergia alimentar dobra!
- DIETA:
A orientação atual é que todas as mães, independente da história familiar, consumam dietas normais, balanceadas sem restrição (incluindo leite, ovo, trigo, etc) durante a gestação e amamentação.
Receber fórmulas de leite de vaca, ainda no berçário, pode ser um fator de risco para alergia alimentar.
Devemos sempre estimular o aleitamento materno exclusivo de 6 meses.
ALIMENTOS que mais causam alergia:
Na criança:
- Leite de vaca
- Ovo
- Trigo
- Soja
No adulto:
- Amendoim
- Castanhas
- Peixes
- Frutos do mar
Atenção!!
Corantes e conservantes:
Como tartrazina (corante amarelo), vermelho carmin, sulfitos e glutamato monossódico.
Apesar de serem frequentemente informados pelos pacientes, menos de 1% estão realmente relacionados com alergia alimentar.
Manifestações como urticária, asma e anafilaxia são extremamente raras e alguns autores chegam a desconsiderar esta possibilidade em relação aos aditivos.
Sintomas
Para facilitar o entendimento vamos dividir os sintomas pelos mecanismos imunológicos envolvidos.
Dividimos em:
– Mediado por IgE (IgE é o anticorpo da alergia)
– Não mediado por IgE
– Mistos
Inicialmente farei um resumo comparativo dos 2 primeiros mecanismos, depois falaremos de cada um deles separadamente.
Mediada por IgE | Não mediada por IgE | |
Tempo de início sintomas após contato com o leite | Minutos a poucas horas | Horas a dias da ingestão |
Teste cutâneo alérgico / IgE no sangue | Positivo | Negativo |
Sintomas principal | Empolação e inchaço | Vômitos e diarreia |
Complicação | Anafilaxia | Desidratação e desnutrição |
Tratamento | Restrição do LV | Restrição do LV |
– ALERGIA ALIMENTAR MEDIADA POR IgE
PELE:
É o local mais comum de manifestação. Podemos observar:
- Empolação (também chamada de urticária), inchaço de algumas partes do corpo, como lábios ou pálpebras. Em geral ocorrem até 2h depois da ingestão do alimento.
- Piora dermatite atópica – alergia alimentar pode ser um fator de piora, quando a dermatite é muito extensa.
APARELHO GASTROINTESTINAL:
- Diarréia, vômitos e dor abdominal.
- Em geral vem acompanhados dos sintomas da pele.
APARELHO RESPIRATÓRIO:
Os sintomas de rinite e asma são muito raros, mas quando ocorre vem acompanhado de sintoma da pele, do aparelho gastrointestinal e até de manifestação de anafilaxia.
– ALERGIA ALIMENTAR não MEDIADA POR IgE
Os sintomas são tardios, ocorrem em horas a dias da exposição ao alimento.
É uma doença da criança, que se inicia até os 2 anos de idade.
Os sintomas principais são vômitos e diarreia.
GASTROINTESTINAL
Em geral os sintomas são GASTRO-INTESTINAIS, e podem ser listados como:
– FPIPS – Síndrome da Proctocolite Induzida por Proteína Alimentar
– FPIES – Síndrome da Enterocolite Induzida por Proteína Alimentar
– FPE – Síndrome da Enteropaia Induzida por Proteína Alimentar
Esses sintomas gastrointestinais podem ser leves a severos.
Em alguns casos podem levar a desidratação, diminuição de crescimento, peso e até desnutrição.
– ALERGIA ALIMENTAR COM MECANISMO MISTO
Listamos 2 doenças das principais doenças que se encaixam nesse mecanismo:
– DERMATITE ATÓPICA – apenas aquelas moderadas a graves devem ser relacionadas a Alergia Alimentar (ver Dermatite Atópica)
– ESOFAGITE EOSINOFILICA (ver Esofagite Eosinofílica)
Diagnóstico
Deve ser clínico e em algumas situações podem ser confirmadas por exames:
– Na alergia alimentar MEDIADA por IgE
- TESTE CUTÂNEO:
É um teste rápido, simples que pode ser realizado no próprio consultório do médico especialista.
- EXAMES DE SANGUE – IgE específica:
É um exame menos específico e ainda podemos ter falsos positivos. Por exemplo, se um paciente tem alergia ao amendoim, o exame pode mostrar alergia ao feijão, a soja e a ervilha, mas na verdade é alergia só ao amendoim (essas substâncias fazem reação cruzadas entre si).
- TESTE DE PROVOCAÇÃO ORAL:
É o mais fidedigno para se estabelecer o diagnóstico de alergia alimentar. Este teste nada mais é do que re-expor ao alérgico o alimento suspeito.
Lembre-se: SÓ DEVE SER REALIZADO COM SUPERVISÃO MÉDICA. Nunca deve ser feito se tiver suspeita de anafilaxia, exceto em ambiente hospitalar e com médico especialista.
– Na alergia alimentar NÃO MEDIADA por IgE
O Diagnóstico é principalmente clinico, pois os exames ajudam pouco como vamos ver a seguir.
– TESTE CUTANEO e EXAMES DE SANGUE – (IgEs séricas)
Não terão valor – lembrando que essa é uma doença alérgica não dependente de IgE.
– PATCH TEST com alimento suspeito – é um teste cutâneo realizado nas costas do paciente, sendo feito uma leitura tardia, 48-72h.
O problema é que não se tem observado correlação clínica e testes positivos que justifique a realização do teste em todos pacientes.
– PESQUISA DE SANGUE OCULTO E MUCO NAS FEZES –
Tem pouco valor, pois pode ser modificado por vários fatores
– COLONOSCOPIA COM BIOPSIA –
Para confirmação e/ou exclusão de outras doenças.
Não é exame para ser feito em todos os pacientes.
– DIETA DE EXCLUSÃO e REEXPOSIÇÃO –
Suspende por 2-4 semanas e depois reintroduz o Leite de vaca – é o padrão OURO no diagnóstico. Deve ser feito SEMPRE com supervisão do médico alergista.
Tratamento
O único tratamento comprovadamente eficaz é a RETIRADA COMPLETA DO ALIMENTO.
Por exemplo, a criança que faz alergia ao leite de vaca, deve suspender o leite em pó da mamadeira, mas também os derivados: queijo, requeijão, bolo, pães, doces, biscoitos…
Em cada alimento comprado para o alérgico devemos ler o rótulo das embalagens para não termos surpresas. Essa dieta deve ser dita aos familiares e à escola. No caso de uma criança maior, ela também deve ser orientada.
Sabemos que alergia a alimentos como leite de vaca, ovo, trigo e soja podem desaparecer, geralmente na infância. Menos de 10% se mantem na vida adulta.
Mas outros alimentos como amendoim, castanhas, nozes e frutos do mar mostram uma alergia duradoura, algumas vezes por toda a vida.
Prevenção
Poucas são as evidencias que podem intervir para diminuir a chance do aparecimento da alergia alimentar.
É consenso que o aleitamento materno exclusivo deve ser mantido até os 6 meses
Não está recomendado…
– Dieta da mãe durante a gestação e amamentação
– Adiar a introdução dos alimentos sólidos. Estes devem ser introduzido a partir do 6º mês de vida, sem restrição (ex: leite, ovo, trigo e peixe)
– Introdução de fórmulas de soja ou hipoalérgicas (parcial ou extensamente hidrolisadas)